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Conheça mais da história da família que transformou desafios em oportunidades durante a pandemia no Amapá

Por Lucas Costa

Foi o amor e a dedicação que levaram seu pequeno negócio, que começou dentro de casa, ao título de melhor delivery do Amapá, afirma a empresária. Foto: Arthur Lameira

As rochas não se mexem, mas são polidas pela água, pelo vento e pelo tempo. A experiência aguça os detalhes, e um tempero refinado por mais de 40 anos é o segredo de Ocinéia Bastos, a Dona Oci, de 59 anos, dona do restaurante premiado como o melhor delivery do Amapá em 2024, Delícias da Oci.

Essa mulher, que sempre nutriu uma paixão pela cozinha, se casou aos 19 anos e logo se viu cuidando de casa, marido e filhos; a cozinha era seu laboratório, onde experimentava com alho, sal e pimenta, conquistando aos poucos todos que provaram de sua comida.

As experiências de vida acontecem por diversos fatores; às vezes é o acaso, a sorte, outras vezes é a vontade ou até mesmo a necessidade. Foi pela carência que, para cuidar de uma família grande, Dona Oci, aos 27 anos, começou a trabalhar como merendeira em uma escola pública.

Junto ao seu marido, Valdes de Oliveira, servidor público, conseguiu educar seus filhos, vê-los se formarem em administração e direito, mas a vida é uma caixinha de surpresas. Veio a pandemia, as empresas fecharam, a economia derreteu, seus filhos perderam os empregos, e mais uma vez as necessidades começaram a aparecer na vida da família.

O início

Em 2020, com medo de pegar Covid, toda a família estava dentro de casa, sem poder sair, e viam as contas chegarem. Foi então que Alessandra Bastos, filha de Dona Oci, teve uma ideia: abrir um empreendimento de delivery. Sem pensar duas vezes, a senhora pegou um papel, uma caneta e começou a escrever o cardápio.

No dia 21 de abril, deu-se início a um dos empreendimentos de maior sucesso do Amapá, o Delícias da Oci. "Começamos em 4 pessoas, eu, meu filho e duas filhas. Depois, deu certo de começar com um entregador. Hoje, temos mais de 20 colaboradores", conta a empreendedora.

Logo de início, as pessoas gostaram do tempero e do sabor, mas foi depois que o auxílio do governo começou a ser distribuído que o negócio alavancou. Com mais dinheiro circulando, as vendas aumentaram, o restaurante foi parar em aplicativos de delivery, e a cozinha de casa ficou pequena. O espaço aos fundos, que servia de kitnets, teve de ser desalojado para comportar o aumento da demanda; cinco pessoas no total eram pouco, e o negócio se expandiu ainda mais.

Empreender no Amapá

Do Sul ao Norte, o povo brasileiro vê no empreendedorismo uma opção de renda e trabalho, por isso, durante a pandemia, muitos se aventuraram abrindo seus próprios negócios. Apenas no Amapá, durante o ano de 2020, houve um saldo de mais 530 novos CNPJs ligados ao setor de bares e restaurantes.

Para além da natureza do negócio, o estado do Amapá ainda enfrentou, segundo dados PNAD Contínua (IBGE), períodos de grande volatilidade no número de empregos e salário médio entre os anos de 2021 e 2022, refletindo a dificuldade econômica imposta pela pandemia.

Como a expectativa média para negócios do ramo de bares e restaurantes no Brasil é de 18 meses, segundo o SEBRAE, empreender nessa área mostra-se um desafio que tem aos poucos se tornado menos árduo. A trajetória de Dona Oci e seu restaurante tem como base o trabalho em família, a perseverança e a crença de que ao fazer com amor, cuidado e carinho as coisas dão certo.

Mas é preciso entender que existem outros fatores fundamentais para o sucesso empresarial, afinal, cada região possui seus próprios desafios. Para Valdes Jr., filho de Dona Oci e responsável pela parte administrativa do negócio, um dos maiores desafios enfrentados pelos estabelecimentos do Amapá é referente ao contracheque.

“Como há uma parcela considerável de funcionários públicos, há uma diferença na demanda do restaurante entre a primeira e a segunda quinzena do mês.”, comenta o administrador ao explicar o hábito dos clientes que compartilham a mesma rotina de pagamentos.

Dona Oci acredita que o segredo do sucesso está na qualidade e nos padrões de seus pratos e atendimento. Foto: Arthur Lameira

Do delivery ao salão

Na contramão do processo tradicional, o restaurante Delícias da Oci operou por 3 anos sem ter um salão, apenas no delivery. Nesse tempo, o empreendimento ganhou corpo e se tornou financeiramente estável. Com isso, Dona Oci, quando percebeu que era hora, decidiu transformar sua antiga casa em um restaurante com salão e comprou uma casa nova para sua família, a 10 minutos a pé do seu negócio.

Para fazer a transformação da sua antiga casa para um restaurante aberto ao público, diversos reparos tiveram que serem feitos, a cozinha teve que ser expandida e reconstruída toda em aço inox e, assim, foi possível realizar seu sonho: ter um espaço agradável para os clientes, onde a comida fosse servida de forma arrumada, com gosto e beleza.

O crescimento que o salão proporcionou aos negócios fez com que o restaurante contratasse um quadro maior de funcionários para trabalharem na cozinha, nas entregas e no salão. Com um apreço pela região onde mora há décadas, Dona Oci faz questão de contratar pessoas que moram no mesmo bairro, “São rostos conhecidos que precisam desse emprego, queremos valorizar essas pessoas”, comenta.

Quando perguntada sobre o segredo do sucesso, ela diz que "é a qualidade e o padrão, até o alho é importante para o cliente. Uma vez tentei diminuir o alho, e os clientes já comentaram. Por isso, valorizamos nosso padrão de preparo”, conta ela com bom humor.

Com uma equipe mais estruturada, seu principal papel hoje é gerenciar os sabores e os temperos. Dona Oci chega ao restaurante por volta das 11h30, para conferir o andamento e a qualidade. Ela chega nessa hora porque ainda concilia o trabalho de merendeira na escola com seu restaurante.

Na verdade, Dona Oci já prepara comida desde muito cedo, mas para os alunos da escola pública onde trabalha. E independentemente da cozinha, seja de casa, da escola ou do restaurante, Dona Oci se orgulha de sempre ter sua comida elogiada.

O restaurante é um sucesso, abre para o almoço e para o jantar de quarta a segunda. Com bom movimento durante toda a semana, a maior felicidade é aos finais de semana. "Domingo ninguém quer cozinhar, eu adoro".

A alegria de Dona Oci é fruto de muito trabalho. Já são quatro anos trabalhando junto com seus filhos, buscando melhorar a cada dia. Em suas palavras, foi o amor e a dedicação que levaram seu pequeno negócio, que começou dentro de casa, ao título de melhor delivery do Amapá.

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