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O setor de alimentação fora do lar tem reforçado seu papel como porta de entrada para o primeiro emprego. Média salarial e participação feminina também crescem

Por Tatiane Ferreira

Atualmente, o setor de bares e restaurantes emprega cerca de 5,6 milhões de pessoas. Foto: Shutterstock

A pandemia da Covid-19 foi um duro golpe para os bares e restaurantes, setor cuja essência está no movimento das ruas – as maiores afetadas pelas medidas sanitárias que tentavam conter o alastramento do vírus.

Como consequência, milhares de empreendimentos fecharam as portas e trabalhadores perderam seus empregos. Mas agora, pós-pandemia, um novo cenário tem se desenhado na alimentação fora do lar.

Com cerca de 5,6 milhões de pessoas empregadas atualmente, o nível de ocupação do setor começa a se aproximar do período pré-pandemia, mas também traz consigo um perfil singular dos novos trabalhadores.

Durante o período de isolamento social, pessoas que há anos trabalhavam no setor, ou optaram por voltar para sua terra natal ou migraram para outras áreas.

Quando o período mais crítico da pandemia passou e a economia começou a se recuperar, as vagas que surgiram foram preenchidas por um público mais jovem que, em busca do primeiro emprego, encontrava nos bares e restaurantes a oportunidade perfeita: pesquisa da Abrasel divulgada em julho de 2023 mostrou que 93% dos empresários contratam pessoas sem experiência.

Mas o setor não se preocupa apenas em dar a primeira chance para quem quer ingressar no mercado de trabalho, também visa qualificar o empregado e expandir novas habilidades: a mesma pesquisa indicou que 74% das empresas têm programas de ascensão profissional, ou seja, uma pessoa que entrou no mercado como cumim, por exemplo, pode se desenvolver na empresa e chegar a um cargo de gerência.

Força feminina no setor

Durante a primeira edição da Bienal da Gastronomia, realizada em Belo Horizonte (Minas Gerais) entre os dias 16 e 31 de outubro de 2023, foi lançado o documentário “Três Marias”.

Dirigido pela jornalista Lorena Martins, a produção é uma homenagem às matriarcas da tradicional comida mineira, responsáveis por popularizar a culinária do estado: Maria Stella Libânio Christo, Dona Lucinha e Nelsa Trombino.

Esse e tantos outros materiais evidenciam o papel das mulheres no processo de desenvolvimento da gastronomia brasileira, seja no preparo dos pratos ou na gestão do negócio.

O reflexo disso está na presença delas nos estabelecimentos. Garçonetes, chefs, auxiliares de cozinha, gerentes, gestoras. Para onde você olhar, elas estarão lá.

Levantamento da Abrasel com base em dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que 54% da força de trabalho do setor é feminina; já entre os profissionais informais, o número sobe para 56%.

Elas também são determinantes entre quem empreende. As mulheres representam 37,58% em empresas que têm sócios, número maior do que na indústria (31,02%), no comércio (35,52%), na agropecuária (36,63%) e na construção civil (24,76%).

Em outra pesquisa, realizada em 2020 pela Abrasel em parceria com o Sebrae, a participação feminina entre quem empreende se mostrou ainda maior: 46% – nesse levantamento, eram considerados todos os tipos de empresas, não só as que têm sócios, mas também as que pertencem a microempreendedores individuais (MEIs).

O cenário para os próximos anos é animador, com ainda mais espaço para que elas se destaquem e cresçam no setor. O resultado já é visível hoje, segundo pesquisa da Abrasel divulgada em março deste ano: 41% das empresas do setor dizem já ter implantado paridade de gênero nas equipes e na gerência e outros 30% pretendem implantar em breve.

Outros 29% não veem viabilidade – o que pode ser justificado pelo fato do setor ter muitas empresas de microempreendedores individuais ou familiares sem nenhum funcionário, daí a dificuldade de alcançar um número ainda maior.

Recuperação à vista

Presentes em todos os 5.570 municípios brasileiros, o setor de alimentação fora do lar emprega milhões de pessoas de norte a sul do país, de maneira formal e informal. O trailer de lanche na porta do estádio, a lanchonete da esquina, o boteco no centro, a franquia do restaurante: tudo está interligado.

E é algo que não se restringe apenas a quem está diretamente ligado ao negócio, mas a toda a cadeia produtiva, como, por exemplo, o profissional terceirizado que faz a limpeza do salão, a pessoa que faz a entrega no seu apartamento, o cantor que anima o cliente na sexta-feira à noite, o catador de material reciclável que recolhe o resíduo: tudo é parte desse imenso movimento presente nos quatro cantos do Brasil.

A partir do momento em que as ruas passaram a ter o brilho e o movimento que tinham desde antes da pandemia, o setor, que perdeu mais de 300 mil negócios e fechou 1,5 milhão de postos de trabalho, voltou finalmente a se recuperar, e 2023 tem sido um reflexo disso.

Até setembro deste ano, a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), índice divulgado pelo IBGE e que mede o número de empregos formais e informais no país, indicou que mais de 200 mil vagas haviam sido preenchidas. Só para ter ideia do quanto o setor empregou, entre setembro de 2022 e setembro de 2023, o número de pessoas trabalhando no setor cresceu 3,9%.

Com a chegada das festas de fim de ano, confraternizações e o verão que já chegou com as temperaturas altíssimas, espera-se também aumento na demanda.

Tomar uma cerveja gelada, bater papo com os amigos durante um happy hour ou simplesmente sentar na mesa de um restaurante depois das compras de fim de ano geram ainda mais movimento no setor. A consequência disso? Contratar mais mão de obra para dar conta desse aumento.

Na pesquisa de conjuntura econômica da Abrasel divulgada em novembro, até o final de 2023, 35% dos gestores pretendiam contratar mais funcionários, sendo que, desses, 62% aumentaria o quadro de colaboradores em virtude do aumento na demanda.

A movimentação de um setor que gera tantos empregos, como é o de bares e restaurantes, é proporcional à dinâmica das ruas. Quanto mais movimento, mais consumo, gerando aumento no número de pessoas empregadas e estimulando a renda. É uma complexa engrenagem que gira a roda da economia e faz o país crescer.

Quando falta mão de obra

Apesar do alto número de pessoas empregadas no setor em 2023, ainda há um grande desafio a ser superado no mercado de trabalho: encontrar pessoas qualificadas para preenchimento de determinados cargos.

Como dito no início da matéria, contratar pessoas sem experiência é uma característica importante do setor – porta de entrada para o primeiro emprego. Entretanto, certos cargos exigem algum grau de conhecimento e encontrar pessoas com a qualificação adequada se torna um desafio.

Um levantamento da Abrasel realizado no fim de 2023 mostrou que alguns dos cargos que os empreendedores mais têm dificuldade em contratar são os de gerente (grau 4,40 em uma escala de 0 a 5), profissionais especializados em áreas como sushiman, pizzaiolo, churrasqueiro etc. (grau 4,35) e cozinheiro chefe (grau 4,29).

Os fatores que podem justificar essa dificuldade em encontrar profissionais preparados são diversos. Alguns empreendedores apontam que até existem programas de qualificação, mas não há interesse algum dos profissionais em se especializar; outros apontam que, devido à alta rotatividade do mercado, há dificuldade em manter o profissional na vaga.

A estratégia para driblar esse desafio está no oferecimento de benefícios e salários mais altos: em junho deste ano, 44% dos empreendedores concederam reajuste salarial acima da convenção coletiva, segundo pesquisa da Abrasel.

O principal motivo apontado foi justamente o de atrair mão de obra, seguido de reter funcionários, premiar desempenho e ajustar-se ao mercado. Já segundo a PNAD, entre julho de 2023 e julho de 2022, a média salarial do setor registrou aumento de 8,2%.

E para 2024?

A expectativa de PIB (Produto Interno Bruto) positivo para 2023 desenhou um cenário ainda mais favorável para a geração de empregos no setor de alimentação fora do lar.

Entretanto, vale frisar que o aumento no número de pessoas empregadas é consequência direta de uma série de fatores que convergem todos para um mesmo objetivo: manter as ruas vivas. Ou seja, qualquer medida que prejudique o comércio e a livre iniciativa tem impacto direto sobre o consumidor e, consequentemente, sobre a economia.

Agora, é momento de olhar para trás e refletir o que foi essencial para manter esse movimento e o que poderia ter sido diferente para estimular ainda mais os bares e restaurantes.

O cenário para 2024 é animador, com mais gente disposta a ingressar no mercado de trabalho e vendo no setor a porta de entrada, buscando qualificação para ascender ainda mais no ramo ou investir no próprio negócio. Entretanto, é necessário o apoio de políticas públicas que estimulem e facilitem o empreender no país, de forma que gere ainda mais emprego e renda.

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